Depressão versus Quintana
Hoje faz dois anos que 
sofri um grave acidente dentro da Agência do Bradesco, e fiquei alguns dias de 
cama.  
Tenho andado muito 
deprimida, ultimamente. Uma tendência herdada de minha mãe, com quem muito me 
pareço, física e psicologicamente...  
Quando eu soube da vinda 
da filha Marga, da Alemanha,  fiquei 
muito animada. Ela veio, ficou aqui por alguns dias e hoje está voltando à sua 
nova pátria, a fim de cuidar da família (duas filhas, um filho e um neto), o que 
me deixou muito triste, porque tenho a impressão (obviamente causada pelo meu 
estado depressivo) de que não nos veremos mais neste vida, porque ela vem cada 
seis meses e acho que vou morrer ainda este ano... 
Anteontem, num almoço de 
despedida, eu estava tão deprimida que não consegui me comunicar com ela e a 
outra filha, com um bolo me impedindo de falar. Separei-me de ambas, na porta do 
restaurante, e vim para casa, chorando pelas ruas de Terê. Uma irmã na fé me 
encontrou e, como sempre me vê alegre, estranhou as lágrimas e precisei explicar 
o motivo.
Gosto de falar, de 
brincadeira, que “filho é desgraça neto é 
acidente”. Não tenho motivo algum para dizer isso, pois tenho duas filhas 
excelentes; mas sempre escutei esta frase na infância, dita por Belo, o capataz 
do sítio de meu pai,  e ela tem me 
acompanhado há muitas décadas...
Belo gostava de beber umas 
cachaças, brigava com o filho Otávio (meu amigo de infância) e  soltava esta frase, querendo esconder a 
sua embriaguez. Ele, minha avó e Chico, meu irmão mais velho, me chamavam 
“Dadita”, tanto que ao me ouvir declamando o poema ‘Julius Caesar’ de 
Shakespeare, aos 17 anos de idade, minha avó indagou a minha mãe: “Rosa, tu não achas que Dadita tá ficando 
‘ledeira demais?’” A partir desse dia, meu novo apelido foi “sabicholinha 
ledeira”.
Uma das melhores 
lembranças que tenho do meu pai é que ele sempre me trazia livros de estórias 
infantis, da feira do Crato, os quais eu devorava e depois procurava escrever 
minhas próprias estórias, lá pelos 8 anos de idade.
[Estou tentando driblar minha depressão com as lembranças da 
infância.]
Meu pai era um poeta 
repentista e gostava de fazer poesia à mesa das refeições. Herdei dele a 
facilidade de escrever versos. Pena que a beleza física (ele era moreno de olhos 
verdes) tenha sido herdada pela sua filha mais nova e não por mim, a filha mais 
velha. 
Todas as noites, quando me 
deito, após a oração costumeira, fico me lembrando da bela infância, da 
juventude saudável, da minha felicidade conjugal e das viagens ao exterior, 
enquanto o sono não chega. A saudade é uma “peixeira nordestina”, a qual vai nos 
cortando, lentamente! Quantas vezes eu fico tão sofrida, lembrando-me de tudo 
que possuí na vida e perdi, que tenho vontade de adormecer e jamais 
despertar.
Mas,  se Deus continua permitindo que eu viva 
e sofra esta saudade, certamente há de usar o meu sofrimento para edificação de 
alguém que, não tendo tido uma boa infância como eu tive, possa Lhe dar graças, 
por não  precisar sentir esta 
saudade cruciante. 
Depois de ler estes versos 
de Mario Quintana, vou ler um sermão de Spurgeon (14 pp), intitulado “A Message From God To Thee”, para 
diminuir esta enorme saudade, que me consome por dentro e me deixa mais velha e 
mais feia...
AH! OS RELÓGIOS
Amigos, não consultem os relógios, Quando, um dia, eu me 
for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem 
mais uns necrológios...
Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a 
vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia para nos dar a 
eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si 
mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção. E os Anjos 
entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida - acaso lhes 
indaga que horas são...
Mario Quintana - A Cor do 
Invisível
Mary Schultze, 
27/09/2014.
Recebido por e-mail em 27.09.2914