quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Por que há tantos evangélicos "sem igreja"

publicado 22/08/2009 por José Peres Júnior


Há alguns anos, escrevi um artigo em que apontava algumas causas do vigoroso crescimento das igrejas evangélicas no Brasil. A verdade é que esse cristianismo protestante fincou pé definitivamente neste país, e ainda continua avançando.

No entanto, nota-se que paralelamente ao crescimento do número de igrejas evangélicas, e os líderes fecham os olhos para isto, cresce também o número daqueles que, embora se professem cristãos, não freqüentam nenhuma denominação religiosa. E grande número desses é egresso das fileiras evangélicas. Assim, a pergunta é: por que há tantos evangélicos que se dizem “sem igreja”?

O crente simplista dá nomes institucionalizados a esses indivíduos, tais como rebelde, desviado, fraco, desgarrado, infiel, dentre outros. Mas, apesar dos estigmas, o fato é que muitos desses “desviados” não se sentem afastados de Deus. Eles fazem as suas orações, lêem a Bíblia, louvam, e confessam ser cristãos.

Primeiramente, deve-se distinguir duas classes de cristãos “sem igreja”. Uma é formada por aqueles indivíduos que começam a freqüentar uma denominação cristã e se afastam enquanto ainda não atingiram solidez doutrinária. A outra é composta por crentes que já atingiram um certo “enraizamento” na doutrina evangélica. Estes, normalmente, se afastam porque encontram discrepâncias entre a doutrina cristã e o que se prega na igreja.

As causas do crescente afastamento de pessoas das igrejas evangélicas são inúmeras. Historicamente, o espírito protestante, de onde vêm os evangélicos, é um espírito não-conformista. É um espírito investigativo, examinador, empreendedor. Para abandonar o conservadorismo católico não se exige menos. É um espírito em busca da “verdade”. Rubem Alves, um dos mais brilhantes teólogos que o protestantismo brasileiro já produziu, afirma com muita propriedade que o espírito católico se cristaliza na busca pela “unidade” da igreja, enquanto o espírito protestante busca a “verdade”, não se prendendo à tradição, ou à instituição. Assim, em nome da unidade, a instituição católica é bem mais tolerante quanto à diversidade em seu seio. Ao passo que aqueles que primam pela “verdade” não podem tolerar o pensamento divergente. Ou seja, o ambiente institucional evangélico é muito rígido. Para Alves, quem acredita possuir a verdade tem de ser intolerante e não pode aceitar idéias divergentes. De forma que a “doutrina” de quem governa a igreja evangélica não pode ser contrariada, ou posta em discussão. Criticar o projeto institucional é visto como heresia.

É curioso que ao católico, o evangélico se diz comprometido com a “verdade” e para possibilitar a conversão do outro, apela à independência institucional e à liberdade para interpretar o Texto Sagrado: examine, pondere, analise, veja se as regras católicas estão de acordo com a Bíblia. Com vistas à conversão, apela-se ao senso crítico. No entanto, esse indivíduo, protestante por natureza, gerado a partir da independência institucional e da liberdade para examinar e decidir os seus rumos espirituais, no seio da igreja evangélica vê-se impedido de usar dessa liberdade, pois, aderindo ao “batismo” da igreja, é obrigado a aceitar, a professar e a justificar, incondicionalmente, as regras da instituição.

Paradoxalmente, o discurso evangélico apregoa a liberdade, o senso crítico, a racionalidade e o livre exame do texto bíblico, mas enaltece a obediência e a fidelidade às suas estruturas institucionais.

Para instituir um conjunto de dogmas para a comunidade, o poder eclesiástico na igreja evangélica apela para a crença na infalibilidade dos seus líderes. Os dizeres e as interpretações dos líderes evangélicos quase sempre são elevados à categoria de revelações do Espírito Santo e ganham ares de “verdades” inquestionáveis. Por extensão, apregoa-se que as convenções da igreja não erram nas suas interpretações e nas suas nomeações. Por isto se exige obediência e submissão aos decretos superiores. Desta forma, quem não falar as palavras da instituição, não fala na igreja evangélica. Quem não aceitar as “regras do jogo” é impedido de jogar.

Rupturas são inevitáveis. Esse espírito investigativo se recusa a se dobrar àquilo em que não acredita. Daí nasce uma infinidade de novas instituições. Raríssimas são as denominações evangélicas que não nasceram de cismas, de discordâncias, de rupturas.

Por outro lado, muitos cristãos evangélicos, protestantes por natureza, que não possuem o idealismo para fundar uma nova instituição, quando percebem as discrepâncias no discurso institucional, preferem virar as costas para a denominação religiosa e fazer uma interpretação independente, de Deus, do mundo e da Bíblia.

Esse é o espírito protestante.
Esse é o espírito dos profetas.


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POR QUE HÁ TANTOS EVANGÉLICOS "SEM IGREJA"

publicado 22/08/2009 por José Peres Júnior em http://www.webartigos.com

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Um comentário:

Décio disse...

Amigo Francisco;

muito bom, mas muito bom mesmo, esse artigo publicado. sem comentários.