domingo, 8 de fevereiro de 2009

QUANDO A RELIGIÃO CAUSA UM TRAUMA PSICOLÓGICO NA ALMA

QUANDO A RELIGIÃO CAUSA 
UM TRAUMA PSICOLÓGICO NA ALMA

Dr. J. LeBron McBride, Ph.D. *

A religião saudável tem um grande potencial para o bem, mas a religião corrupta pode trazer grande preocupação para a alma. Na verdade, ocorrem grandes acidentes espirituais e lesões traumáticas do psiquismo durante viagens religiosas. Este artigo centrar-se-á em que algumas das maneiras pelas quais a religião ruim resulta em um trauma psicológico até para aqueles que fogem de seu absorvente controle.

Nas décadas mais recentes, temos chegado a observar o impacto de experiências traumáticas em pessoas que as tem sofrido. Temos até um distúrbio psicológico que se reconhece como resultado de um trauma terrível. Chama-se Desordem de stress pós-traumático. Embora certamente não desejo minimizar de forma alguma as terríveis experiências que muitos têm com várias formas de abuso, violência e guerra,  descobri que existem alguns paralelos menos intensos nos que experimentam o trauma da religião destrutiva. Tenho também descoberto que um enfoque puramente teológico à cura dessas pessoas, embora indispensável, não é tão útil como uma abordagem holística, que também inclui aspectos teológicos e relacionais.

Pessoas que despertam, saem de um sistema religioso por vários caminhos. Elas costumam despertar gradualmente e se dão conta de que, sem alguma manobra molesta e evasiva, os pedaços da estrutura teológica simplesmente já não se encaixam para eles. Para aqueles que foram "verdadeiros crentes”, este despertar pode tornar-se confusão, desorganização, e um desconfortável estado psicológico porque as coisas já não ajustam entre si como um pacote bem embrulhado. Esse estado psicológico é chamado dissonância cognitiva devido aos conflitos internos que apresenta.


Ambivalência e confusão

A maioria experimentará uma luta para frente e para trás ou ambivalência ao lutar com o que sempre se lhes tem ensinado e o que estão começando a entender. Um exemplo disto é a pessoa que me escreveu o seguinte:

“Devo confessar que, às vezes, não tenho certeza do que está acontecendo na minha cabeça. Tudo o que sei é que quando eu penso em regressar à "experiência religiosa" dos últimos anos, não posso suportar a idéia. Tenho encontrado uma liberdade e uma alegria que nunca conheci antes, e quanto mais eu aprendo, melhor me sinto sobre isso. No entanto, um não pode ter crescido na "velha escola" e não ter medo, de vez em quando, ser um herege e um "sinal do fim."

Esta ambivalência e confusão podem ser extremamente intensas ao perceber a pessoa de que muitas das suposições e crenças que lhe foram ensinadas durante anos não são corretas. Pode haver uma sensação de impotência, desorientação, e de estar assoberbado, que são experiências comuns dos que passam por um trauma. Depressão, ansiedade, rigidez ou comportamento impulsivo pode tornar-se evidente. Podem experimentar ira, desespero, vergonha, culpa, desconfiança, fúria, medo e irritação. Nada parece normal nem seguro. O questionamento espiritual pode se tornar uma obsessão. O transtorno pode ser horrível.

Zona psicológica de perigo

 
Como um cliente me disse: "A minha fé tem sido sacudida até ao chão." Quando as suposições e as crenças de um caem e caem, se cria uma zona de psicológica de perigo. Os perigos podem incluir o seguinte: 

  * O perigo de voltar à velha estrutura de crença, não porque já não é válida, mas por causa da segurança e da confiança que acabam sendo falsas.

 * O perigo de acreditar que temos de rejeitar tudo que é espiritual ou religioso - "deitar fora o bebê junto com a água do banho"

* O perigo de ir para os extremos da vida, tais como abuso de substâncias psicotrópicas, ter qualquer outro comportamento aditivo para adormecer a dor, ou de recorrer à automedicação

* O perigo de negar qualquer conceito novo ou excluir qualquer forma de pensar que produza um conflito interno

* O perigo de se adaptar e reprocessar quaisquer verdades novas até ao ponto que se comprometa a integridade

* O perigo de tratar de maneira não cristã aqueles que não captam as perspectivas teológicas recém encontradas

* O perigo de se enredar de tal modo em sutilezas teológicas que negligencie o relacionamento com Cristo e os ensinamentos centrais como a graça, a liberdade no evangelho, e o amor.

Muitos que seguem adiante até tornarem-se mais equilibrados pode ser que se aproximem a alguns destes perigos durante um tempo. No entanto, os perigos são muito reais e podem levar à destruição, especialmente se se continua neles por demasiado tempo. Às vezes, comprometem muito a psique e a alma ao apagar as pessoas partes importantes de si mesmas e existir como um robô mecânico para poder suprimir a dor. Evidentemente, é importante não julgar da maneira básica ou a velocidade com que uma pessoa pode progredir em sua luta para mudar. Isso pode ser um assunto muito específico, individual, e pode depender em certa medida da quantidade de doutrinamento que recebeu desde criança em uma estrutura religiosa a qual tenta abandonar.

Perda e dor

A perda que se associa com o abandono de um sistema religioso ou uma cultura religiosa pode ser outro aspecto do trauma. Para muitos, o quanto mais rigoroso o trauma da subcultura do sistema religioso e quanto maior for o isolamento da sociedade em geral, maior será a perda. Quando toda a rede social e os membros da família estão no antigo sistema, o isolamento pode criar uma grande tensão relacional e psicológica. Há ampla evidência da importância da rede social de um para todas as áreas de saúde, e quando se remove a rede social e de apoio, a pessoa está em uma posição fica muito precária. Outro fator que pode vir a funcionar é que, uma vez que um tem crido que ele ou ela é do "remanescente" ou está na "verdadeira igreja", para alguns, há uma perda, por não estar nesse grupo especial. Pode haver também a necessidade de encontrar outra "igreja perfeita", teologicamente falando, que, evidentemente, nunca existiu em primeiro lugar.

Importantes considerações


O que anteriormente foi delineado brevemente e, em geral, como os sistemas religiosos, que são destrutivos, podem precipitar o trauma psicológico, quando uma pessoa tenta passar para outra orientação religiosa. As seguintes são algumas considerações para a manutenção da saúde psicológica em meio de uma experiência traumática:

* Permaneça enfocado no evangelho e em uma relação com Cristo. Nele encontramos nossa condição de especiais e nosso propósito para a tolerância.

* Mova-se em sua própria velocidade; que ninguém mais lhe dite quando necessita mudar uma crença ou deixar uma igreja. Você é que tem que viver com a sua decisão.

* Procure conselhos de pessoas de confiança, e, possivelmente, um conselho pastoral. Muitos conselheiros pastorais podem compreender muitas das suas lutas, em certa medida. Estas lutas ocorrem em muitos sistemas religiosos.

* Comece logo a expandir a sua rede social, se for isolado. Leva tempo e pode ser que não tenha o mesmo nível de comodidade que a proximidade que experimentou com os que tinha conhecido durante anos, e com quem você teve uma comum sistema de crenças.

* Exerça e conserve o equilíbrio em sua vida. Você não pode e não deve estudar os pontos em disputa todo o tempo. Precisa de algum divertimento e lazer saudável.

* Tenha cuidado para não ir a extremos. Sua âncora tem sido levada, e você estará à deriva por um tempo. A moderação é uma chave para a saúde.

* Mantenha a sua paixão, mas lamente a perda de algo de seu idealismo. Não existe nenhuma estrutura religiosa perfeita. No entanto, a seu tempo vai encontrar uma grande satisfação em estar em uma honesta jornada espiritual, em que você pode discutir com integridade e franqueza.

* Re-incida sobre o desafio das novas aventuras de fé e em como sua vida pode ser um exemplo de contínua renovação e reforma para a qual Cristo nos chama em seu discipulado. Cristo não nos chama a ficar como estamos.

* Seja cauteloso e cuidadoso com quem partilha seus recém-achados pontos de vista. Não há nenhum mérito em causar mais turbulência e conflito do que o necessário.

* Dê-se conta, novamente, de que Deus é maior e melhor do que qualquer sistema religioso, e que sua salvação depende de um relacionamento com Ele, e não com nenhuma estrutura organizada. 

Existe um mito em alguns sistemas religiosos destrutivos de que uma pessoa que saia de uma organização não vai sobreviver espiritual ou psicologicamente. Este mito torna mais difícil para alguns abandonarem os sistemas religiosos opressivos. No entanto, este mito é realmente um mito. Há multidões que desfrutam da liberdade de maneiras recém-encontradas de servir e adorar a Cristo em um espírito de liberdade, e que têm superado o trauma psicológico de um sistema religioso tóxico.

* O Dr. McBride é ex-ministro ordenado da IASD. Atualmente, é ministro principal da Primeira Igreja Cristã (Discípulos de Cristo) em Roma, Estado de Geórgia, e Diretor de Medicina da Conduta na Prática de Residência Familiar no Centro Médico Floyd. É terapeuta familiar com licença; autor do liro Spiritual Crisis: Surviving Trauma to the Soul (disponível por meio de Life Assurance Ministries Publications) e Disappointment with the Church (ISBN 0-595-13060-7).

Traduzido do espanhol (http://www.geocities.com/alfil2_1999/trauma.htmlpara o português por Paulo A. da C. Pinto http://br.geocities.com/pacostapinto