sexta-feira, 1 de maio de 2009

NÃO SEJA COMO JONAS

Autor: Prof. Gilson Medeiros

"Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus Se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez" (Jonas 3:10).

A continuação deste relato nos mostra uma das facetas mais obscuras e egoístas do coração humano:

"Com isso, desgostou-se Jonas extremamente e ficou irado" (4:1).


Como é possível alguém ficar "extremamente desgostoso" e "irado" pelo fato de Deus não ter destruído uma cidade inteira?!

Como pode alguém que havia sido tão maravilhosamente liberto do ventre do grande peixe (não era uma baleia, diga-se de passagem) e, logo em seguida, sentir tanta sede de sangue?!

Como entender o fato de um profeta de Deus, um enviado do Altíssimo, ser uma pessoa com um coração tão vingativo e cruel?!

Pois é... a história conta que Jonas era assim! Ele não se conformou pelo fato de que Deus ouviu o clamor dos ninivitas, e compadeceu-Se deles, derramando-lhes Sua graça e Sua misericórdia.

Fico imaginando Jonas, vagando pelas ruas da cidade, pregando a destruição iminente, e dizendo em seu coração:
Vocês vão ver, raça de víboras! O meu Deus não vai ter um pingo de pena de nenhum de vocês! Vocês não perdem por esperar! Continuem em suas orgias!

Porém, como eu já tenho dito aqui várias vezes, Deus age de uma forma muito "ilógica" do ponto de vista humano. Talvez seja exatamente por isso que nós ainda não tenhamos sido consumidos em nossa hipocrisia e falsa religiosidade... Ele "também" tem misericórdia de nós!

Existem muitos "Jonas" por ai

É uma pena que a fé em Deus não nos livre de mantermos em nosso coração sentimentos tão maus e diabólicos quanto a vingança, o ódio e a intriga! Infelizmente, a capa da religiosidade tem cobrido nossa verdadeira face, a qual, em muitos momentos, se revela mais negra e vil do que a dos piores "ímpios".

Jonas estava com um coração tão cheio de raiva e preconceito contra o povo de Nínive, que não pode aceitar o fato de que eles, vis e devassos como eram, também estavam na mira da graça de Deus. O profeta, apesar de pregar sobre um Deus que é misericordioso e bondoso, não cria nisso. Jonas representa perfeitamente aqueles de nós que só conseguem ver o lado de "justiça" de Deus, mas nunca conseguem enxergar a Sua face de "misericórdia", "graça" e "amor" reveladas constantemente nas Escrituras.

Conheço "crentes" (inclusive Adventistas) que olham para os outros "de cima para baixo", ou seja, com aquele ar de "sou melhor que você". Tais pessoas não conseguem entender como Deus pode amar uma prostitura, um drogado, um adúltero, um presidiário, um político corrupto que faz turismo com o dinheiro público (rsrs)... da mesma maneira que ama aqueles que professam crer em Seu nome.

A diabólica doutrina do inferno tem contribuído com esta maneira deturpada de alguns verem a graça de Deus pelos pecadores. Algumas pessoas gostam de pensar que aqueles que não aceitarem a doutrina de sua denominação, arderão no fogo eterno, em caldeirões de água fervente, com diabinhos espetando seus corpos e dando fezes para comerem e urina para saciarem a sede... Era assim que o quadro era pintado na Idade Média, e tem encontrado reflexo ainda hoje.

A experiência de Jonas deve nos mostrar que não podemos JAMAIS exultar pela perdição eterna de uma alma sequer. Ele concluiu sua pregação e foi para um lugar bem alto, para assistir "de camarote" o desespero e a agonia do ninivitas. Imagino que ele deve ter olhado fixamente para o Céu, à espera do fogo e do enxofre que aniquilariam seus inimigos.

Mas no coração do Senhor haviam outros planos, pois os ninivitas também mudaram sua maneira de proceder.... arrependeram-se e suplicaram a misericórdia.

Nós somos facilmente apegados à letra da lei. Se o Manual diz que é para disciplinar, então que assim seja! Se diz que é para banir da comunhão os insubordinados, então que se faça dessa maneira!

Se Deus tinha dito que destruiria Nínive, então por que voltar atrás? Onde ficaria a "honra", o "bom nome" do profeta?! Como ficaria "a imagem" da sua religião, da sua igreja?!

Ora... vê como o coração humano é mal e pecaminoso? Queremos misericórdia, graça e perdão para nós, mas não agimos assim quando se trata daqueles que nos ofendem, magoam e traem. Para eles, a letra da lei! A "tábua de condenação"!

Já imaginou a surpresa de alguns "conterrâneos" de Jonas quando encontrarem os ninivitas no Reino de Deus (Lucas 11:32)?! 
Já imaginou a surpresa de alguns "crentes" de hoje quando encontrarem seu vizinho ateu participando da Ceia do Cordeiro?!
Já imaginou como vai ser um "choque" para alguns legalistas e fariseus modernos quando se depararem com aquele "irmãozinho" que era indisciplinado, negligente, e que não seguia as mesmas "regras morais" que aqueles determinavam?!

Se tem uma coisa que eu aprendi da história de Jonas é a seguinte:

Não devemos julgar as pessoas e, muito menos, condená-las à perdição, pois o Senhor ama a todos e sempre atenderá o pedido sincero de socorro vindo dos lábios (ou da mente) de um de Seus filhos queridos... mesmo que este "filho" esteja todo enlameado pela sujeira deste mundo.

"...mas onde abundou o pecado, superabundou a graça, a fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor" (Rom. 5:20-21).


Amém!

RELIGIOSO OU CRISTÃO?

Autor: Prof. Gilson Medeiros

"Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei" (Gál. 5:22-23).

Existe diferença entre ser um "cristão" e ser um "religioso"? A princípio, sim.

Um religioso é aquele que segue uma religião, portanto, pode-se dizer que o budista é um religioso, o hinduista, o judeu, o muçulmano, e até mesmo um espírita pode ser considerado um religioso. Existem alguns autores que colocam até os ateus neste grupo de "religiosos"!

Mas, ser um "cristão" é diferente. Neste grupo estão apenas os que crêem, vivem e pregam sobre os ensinamentos de Jesus Cristo. Segundo a Bíblia, a primeira vez que os discípulos receberam este "rótulo" foi na cidade de Antioquia (cf. Atos 11:26). No original grego é utilizada a palavra CHRISTIANOS, ou "aquele que segue a Cristo".

E eu posso professar seguir a Cristo mas não ser um "cristão"? Teoricamente, sim. Até certo ponto é perfeitamente possível viver toda uma vida seguindo rituais e cerimônias do Cristianismo, mas não estar entre aqueles que Jesus considera como Seus. A declaração dEle em Mateus 7:21-23 é uma prova cabal disso!

E como saber se minha fé não está sendo enganosa? Como saber se eu estou realmente desfrutando do crescimento e da "novidade de vida" que os primeiros cristãos experimentaram? Como que as pessoas podem olhar para mim, e assim como em Antioquia, verem que eu sigo a Jesus?

A resposta é dada por Paulo na citação bíblica que abriu esta postagem: Gálatas 5:22-23.

Uma pessoa que está se deixando trabalhar pelo Espírito Santo, fatalmente, demonstrará em sua vida O FRUTO deste Espírito. Sempre me intrigou esta designação no "singular" sobre a manifestação do Espírito Santo em nós. Quando Paulo fala de dons, ele usa o plural... Quando fala em ministérios de liderança, ele usa o plural... Mas quando Paulo foi inspirado a falar sobre o RESULTADO (é isto que um fruto é!) da atuação do Espírito Santo em nós, ele usa um termo no "singular": FRUTO. Não são "os frutos", mas O FRUTO. Isto deve nos levar constamente à reflexão!

Quer dizer que eu posso ser bondoso e fiel, mas se não tenho a paciência, então o Espírito Santo não está habitando totalmente em mim? Parece que foi isso que Paulo quis ensinar aos Gálatas... O apóstolo, que teve uma tremenda experiência de conversão, passando de "religioso" (cf. Filip. 3:5-6) a "cristão", nos leva a refletir sobre até que ponto nossa vida "devocional", "cerimoniosa", "litúrgica", está refletindo uma experiência verdadeira com Jesus.

Quantas pessoas que conhecemos, com uma aparente "consagração" infalível, e que são pessoas de temperamento irritante, belicoso e anti-social?!
Quantos que são extremamente meticulosos no que devem comer, mas que são avarentos e apegados aos bens materiais?!
Quantas esposas que, na Igreja, são modelos de "santidade", mas que com os parentes e vizinhos demonstram-se extremamente intemperantes e grosseiras?!
Quantos maridos que, com terno e gravata, até parecem o supra-sumo da fidelidade a Deus, mas que em seus lares são cruéis, implacáveis e tiranos com esposa e filhos?!
Quantos pastores, anciãos e líderes que deveriam ser um modelo na revelação do fruto do Espírito, mas que machucam, magoam e ferem aqueles que estão sob sua "autoridade"?!

Amor,
Alegria,
Paz,
Longanimidade,
Benignidade,
Bondade,
Fidelidade,
Mansidão,
Domínio próprio


É fácil decorar versos bíblicos; saber doutrinas e profecias na ponta da língua; conhecer todas as combinações alimentares permitadas e proibidas; palestrar horas seguidas sobre os benefícios da soja em nossa dieta; ter dezenas de certificados do ano bíblico pendurados na parede; ler todos os livros escritos por Ellen White...

O difícil é demonstrar aos que nos rodeiam se, realmente, Cristo vive em nós. Isso se revela não só por roupas características de "crente", ou por não usar maquiagem e jóias, por exemplo... Isso os "religiosos" também conseguem fazer...

Mas o que o mundo deseja ver mesmo, e não conseguirá levantar contra-argumentos, é uma vida renovada e vivificada pelo Espírito do Senhor, evidenciando o seu COMPLETO FRUTO, com suas 9 partes, em nossa vida.

De que adianta passar horas e horas na Igreja, não perder a nenhum culto das madrugadas, estar em todas as Santas-Ceias, etc., se, ao chegar em casa, o caráter que é revelado aos parentes, amigos e familiares é o mesmo de uma pessoa que não tem nenhum contato com nossa fé?!

De que adianta a existência da Igreja, se ela não consegue nos ajudar a vivermos à semelhança de Cristo? Para que ela serve se, ano após ano, continuamos os mesmos egoístas, grosseiros, petulantes, arrogantes, briguentos, críticos e encrenqueiros de sempre?!

De que adianta ter nascido em "berço Adventista", se anos depois eu revelo o mesmo caráter vil e perverso de outros que nasceram na mesma época que eu, mas em outro "berço"?!

Jesus veio para derrubar as barreiras que existiam entre a "religião" e a "fé". 
- Os religiosos estavam sempre querendo disciplinas e apedrejamentos... Jesus queria curar e libertar.
- Os religiosos seguiam seus infindáveis rituais de purificação exterior... Jesus ensinava que o mais importante é purificar o interior.
- Os religiosos eram implacáveis e vingativos... Jesus perdoava e derramava Sua misericórdia.

Aliás, das poucas vezes em que Jesus agiu com "grosseria" ou "dureza" foi exatamente contra os RELIGIOSOS.

Já pensou nisso?!

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Deixe que a verdadeira fé, uma fé viva em Cristo, nosso Salvador e Senhor, modifique sua vida de tal forma que o Espírito Santo encontre lugar para ali construir o Seu Templo (cf. 1Cor. 6:19).

Se até hoje sua vida tem sido de rituais e cerimônias meramente religiosas, peça ao Senhor que te mostre a beleza de ter a vida lavada e regenerada pelo "banho da graça", que Jesus deseja conceder a todos os que O seguem (Tito 3:5). 

Desejo, de coração, que Jesus encontre entre os Adventistas do 7º Dia muito mais cristãos do que religiosos!