Introdução
"Como
alguém pode deixar a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a não ser por
estar fraco na fé?" Esta era a pergunta que eu fazia quando achava que
alguém estava prestes a deixar o barco da única igreja verdadeira.
Infância e Adolescência
Minha
história pessoal se confunde e se mescla com a história da igreja nas
últimas quatro décadas no Brasil. Na minha infância, um colportor levou
os livros da Igreja até minha casa, de tal forma que, após alguns anos,
estávamos frequentando a Igreja Adventista, onde prosseguimos nos
últimos quarenta anos.
Como dedicados
adventistas, meus irmãos e eu participávamos de tudo na Igreja,
inclusive do clube dos desbravadores. Aos quinze anos eu já havia lido
“O Grande Conflito”, “Mensagens aos Jovens” e vários outros livros da
Igreja e da sra. White. Naquela época, ainda éramos os ‘Missionários
Voluntários’ (depois o nome mudou para Jovens Adventistas).
A Igreja Adventista que frequentei nos anos 1970
A Igreja que eu
frequentei e vivi plenamente, pregava com entusiasmo várias coisas. Nos
estudos bíblicos que recebemos e nas pregações da Igreja aprendemos que o
papa era a cabeça da Besta do Apocalipse e a Igreja Católica era a
Besta que emerge do Mar. A Igreja Adventista era a única igreja
verdadeira, pois era a única que guardava os dez mandamentos de Deus.
Além disso, tínhamos uma profetisa infalível. Fomos informados que havia
um plano ecumênico em andamento para a união das igrejas, mas a igreja
adventista jamais se uniria a elas, pois nem mesmo fazíamos parte do
Conselho Mundial das Igrejas. Todas as profecias da nossa profetisa
tinham se cumprido e outras ainda iriam se cumprir e isso nos fazia
sentir muito seguros.
Na época
comentava-se muito sobre o fato da Igreja Adventista ser a segunda
instituição mais organizada do mundo, atrás apenas da SHELL numa
pesquisa feita nos Estados Unidos. O livro de nossa profetisa sobre a
vida de Jesus (O Desejado de todas as nações) era considerado a melhor
história já contada da vida de Jesus por alguém muito importante que
trabalhava na Biblioteca do Congresso Americano. Sabíamos também que
dentre os adventistas mais consagrados, no tempo do fim estariam os
144.000, e cada um de nós se esforçava pra estar entre eles.
Participávamos das
caravanas dos Festivais de Fé, das reuniões de Koinonia e cada notícia
mais alarmante era para nós um sinal evidente do fim do mundo e isso era
amplamente pregado e comentado por várias semanas. Aguardávamos e
comentávamos com ares de surpresa e inquietação qualquer notícia
relacionada ao domingo, ansiosos pelo decreto dominical. Pois para nós, a
guarda do domingo era um sinal da besta. Em cada sábado à tarde, líamos
porções do livro Mensagens aos Jovens, procurando ver em qual ponto
deveríamos nos aperfeiçoar ainda mais.
E eu, como um ótimo
adventista, acreditava e procurava viver plenamente tudo. Minha
dedicação também se refletia na minha frequência, pois eu não perdia um
único culto. Observando o meu comportamento, vários membros da Igreja
diziam que eu deveria ir para um de nossos internatos e estudar para ser
pastor da Igreja.
Um fato estranho
Mas antes que eu
tomasse tal decisão, aconteceu algo estranho em minha Igreja, que era a
sede do distrito em nossa cidade no interior de Santa Catarina: alguns
membros foram afastados da Igreja pelo pastor por um motivo inusitado. O
que me surpreendeu foi que estes irmãos eram muito zelosos e me
pareciam adventistas e cristãos autênticos.
Curioso, perguntei a
um dos líderes sobre o caso e ele me disse que o motivo era
‘apostasia’. E completando, recomendou-me que não me aproximasse de
forma alguma desses ex-membros. Não satisfeito com a resposta, pois eu
não podia entender como irmãos tão zelosos poderiam ter se apostatado,
perguntei a uma pessoa que ainda era amiga de um dos (agora)
ex-adventistas. Ela disse-me que era por que eles estavam seguindo as
ideias de um pesquisador adventista chamado Desmond Ford que contestava
importantes doutrinas da Igreja. Diante dessa explicação, julguei que a
Igreja tinha procedido corretamente naquele caso e tranquilizei-me sobre
o assunto.
No Internato
Fui para um de
nossos colégios, buscando preparar-me ainda mais espiritualmente para
seguir a carreira ministerial que me aguardava. Após concluir o segundo
grau, transferi-me para um dos dois internatos que ofereciam o curso de
Teologia.
Sonho dos sonhos:
eu, um simples jovem do interior do Brasil, estava ali no Seminário da
Igreja que eu amava, preparando-me para ser um pastor. Tudo ocorria de
forma maravilhosa e busquei aproveitar ao máximo o curso. Gostava muito
das aulas do professor de Daniel e Apocalipse que frequentemente
repetia: “Um texto fora do contexto é um pretexto”.
Da época do teológico, além das boas lembranças, dois incidentes, completamente distintos, trouxeram-me alguma perturbação.
Um colega de quarto
um dia me chamou e leu um trecho de Ellen White, perguntando-me se eu
achava que aquelas eram palavras de uma pessoa inspirada por Deus. O
trecho em questão tratava Jesus como infantil e fraco, e eu disse ao
colega que devia ser um erro de tradução. É claro que ele não ficou
satisfeito, mas eu procurei ‘esquecer’ o assunto, pois não queria,
conforme o dito popular, colocar ‘minhoca’ em minha cabeça.
Em outra ocasião,
um professor do Teológico, Doutor em Teologia, recém-chegado da Andrews
University, foi afastado do curso e excluído por ensinar em classe,
doutrinas conflitantes com as defendidas pela Igreja. Outro professor,
também Doutor em Teologia e professor de Oratória, foi afastado do curso
e forçado a se aposentar porque gostava de falar ‘umas verdades’ que
desagradavam a liderança do colégio e da obra. Eu gostava destes
professores e me entristeci com estes fatos.
Achava essas coisas
estranhas, mas eu era jovem e meu foco era para mim muito claro: ser
pastor da Igreja. Formei-me e fui chamado: meu sonho estava se
realizando.
Até que durou muito
Como pastor,
aprofundei ainda mais meus estudos para preparar meus sermões e logo
encontrei um foco para minhas mensagens: vida saudável, trabalho
missionário, leitura dos livros do espírito de profecia e fidelidade aos
princípios da igreja.
Mas o conhecimento
aliado a inteligência é perigoso na Igreja Adventista. Ao estudar com
diligência e oração, logo começaram minhas dúvidas e inquietações em
questões que envolviam Ellen White e as doutrinas. E das suas, uma: ou
eu encontrava uma maneira de silenciar minhas inquietações, ou teria
problemas.
E durante vários
anos eu escolhi silenciar minhas inquietações com paliativos que à época
pareciam satisfatórios: Ellen White era uma profetiza inspirada por
Deus – logo suas palavras tinham o mesmo peso dos profetas bíblicos; a
Igreja devia ter um bom motivo para acreditar dessa maneira; a Igreja
Adventista era a igreja verdadeira e cumpria um papel singular na
história do mundo; era meu emprego, minha carreira, minha escolha de
vida, afinal de contas.
Outra coisa que me
inquietava eram os erros, mandos e desmandos que eu via em diferentes
setores da ‘obra’. Havia também uma inquietação entre vários obreiros
das missões: o peso ‘morto’ que na época significavam as uniões, que
apenas repassavam orientações vindas da divisão para as associações e
missões. Mas eu novamente me tranquilizava afirmando para mim mesmo que
‘fora’ da obra, deveria ser muito pior, e que aquelas pessoas e os
dirigentes que faziam coisas erradas e tomavam decisões que prejudicavam
a obra e a igreja como um todo, no juízo final teriam de Deus a justa
recompensa por suas más obras.
Experiência Frustrante
Realizando uma
semana especial sobre o Espírito de Profecia, uma das senhoras, membro
de nossa Igreja, trouxe uma inquietação: ela estava entusiasmada com a
semana de oração e foi tentar evangelizar seu bairro. Nessas tentativas,
sua vizinha lhe disse que não acreditava na profetiza adventista, pois
Ellen White era racista.
Tranquilizei a irmã
dizendo que aquilo era um absurdo, e que a vizinha dela mostrava apenas
preconceito contra a Igreja e um total desconhecimento dos escritos da
sra. White. A irmã adventista se deu por satisfeita com minha resposta
superficial, mas eu não. Comecei a revirar meus livros em busca das
referências sobre o assunto, disposto a provar que o que eu disse era
correto, como era do meu costume.
Mas fiquei
desapontado com o que encontrei, pois mesmo considerando o contexto dos
Estados Unidos do século XIX, aquelas afirmações presentes nos ‘escritos
inspirados’ eram claramente racistas. Não voltei a falar no assunto com
a irmã e fiquei feliz por que ela não me procurar para falar sobre
isso. A partir desse incidente, minha consciência não mais me deixou
tranquilo com relação a Ellen White e comecei a centrar minhas pregações
apenas na Bíblia.
Administração
Após alguns anos,
convidado pela própria organização, deixei o ministério e dediquei-me a
atividades administrativas. Sentindo-me cada vez mais apto e vocacionado
para esse tipo de trabalho (as atividades administrativas), após alguns
comecei a considerar a possibilidade de abrir minha própria empresa num
ramo específico de negócios. Na administração conheci mais de perto
algumas coisas na obra com as quais muitos adventistas não concordariam.
Comecei a desejar não trabalhar na ‘obra’. Minha família e eu oramos
muito sobre isso.
Após muita reflexão
e oração, decidi deixar a obra, fundar minha empresa e servir a Deus
como um simples membro de Igreja, atuando como fosse necessário, tanto
fazia se fosse um professor da escola sabatina ou um ancião. Por outro
lado, minha futura empresa parecia-me um lugar onde eu poderia criar um
bom ‘ambiente de obra’.
Enfim, tudo
indicava que eu serviria melhor a Deus fora da organização. Voltei para a
capital do meu estado e comecei meu empreendimento, sem me descuidar
das coisas da igreja, pois além de ajudar na liderança local da
congregação, eu dava muitos estudos bíblicos e pregava frequentemente.
Mais Inquietações
Livre das amarras
organizacionais, dei vazão ao meu desejo de investigar e pesquisar
qualquer assunto que me viesse, mantendo sempre um lema que aprendi com o
apóstolo Paulo: “Examinai tudo, retende o que é bom”. Além dos livros, a
internet estava agora disponível a todos e a Igreja facilitou nesse
ponto, pois os sites organizacionais transformaram-se em ferramentas de
informação e evangelização.
As pesquisas
traziam, entretanto, cada vez mais surpresas e decepções. No site da
Igreja, com tristeza, descobri pela primeira vez que Ellen White havia
copiado indiscriminadamente de outros autores e que, ao longo de vários
anos e décadas, tanto ela como a administração da Igreja negaram esse
fato. Além disso, também fiquei sabendo pela primeira vez que ela havia
feito várias profecias que não haviam se cumprido e que deixara como
herança para filhos, netos e bisnetos, o fruto de seu dom espiritual,
quando em seus escritos, ela mesma recomendava o contrário. Vi pelo site
do Centro White que ela mentira para José Bates a fim de ganhá-lo para a
Igreja. Senti-me muito mal e de verdade, chorei por dentro.
Minha geração foi
educada no conceito de que Ellen White era uma cristã devota, uma pessoa
tremendamente espiritual, inspiradora e que jamais poderia (pelo menos
na idéia que a Igreja passara para nós) fazer coisas daquela natureza.
Eu pensava e
questionava: como e porque a Igreja não me contou essas coisas? Afinal
de contas, eu havia estudado no Seminário da Igreja e, se havia algo
para esconder dos membros de uma forma geral (o que não seria correto),
nada deveria ser escondido dos pastores. Eu simplesmente não conseguia
entender.
Nessa ocasião
descobri que a maioria dos sites na internet que falam sobre Ellen White
pertence a ex-adventistas que criticam os escritos e o ministério dela.
Mente Aberta
Foi aí que uma
simples constatação fez meu espanto e surpresa atingir o ápice: todas as
inconsistências, incoerências, erros, mentiras e enganos estão
apresentados nos sites oficiais da Igreja e do Espírito de Profecia,
(logicamente) com as respectivas explicações defendendo Ellen White e os
pontos de vista da Igreja. Em outras palavras, os administradores devem
ter pensado: já que as críticas se baseiam em coisas, escritos e fatos
reais, vamos colocá-los nos sites oficias da igreja, mas vamos defender
Ellen White em cada uma das questões, acusações e problemas.
Emagreci de
nervosismo e tristeza, pensando durante muito tempo em como aquelas
coisas poderiam ser possíveis. Aflito, mas com oração e genuinamente
decidido a não permitir que aquilo abalasse minha fé, decidi investigar
ainda mais. Por outro lado, comecei a reler a Palavra de Deus, buscando
crescer apenas por ela.
Decidi continuar
minhas pesquisas da mesma forma que eu já vinha conduzindo: somente
investigar pelas fontes da Igreja e não pelos críticos.
Ou seja, se um
membro decide ‘investigar’, basta ele ler as fontes bibliográficas e o
próprio site da Igreja. Embora possa parecer simples, pois fui aos
poucos percebendo as incoerências, acredito que a maioria dos membros
está condicionada a ver apenas o que querem ver.
Ao relembrar como
eu mesmo tinha me calado e tampado meus ouvidos para coisas evidentes,
vi que minha própria experiência revelava como as pessoas só veem o que
estão preparadas para ver.
Além disso, os
adventistas não são diferentes das pessoas em geral, pois a ‘verdade’
para eles acaba sendo uma questão de quem dá as explicações que
‘parecem’ mais convincentes.
Descobertas
Ao longo de seis meses, descobri mais sobre a Igreja Adventista e suas doutrinas do que em quase quarenta anos de adventismo.
Não pude entender
como eu não havia aberto os olhos para aquelas questões. Aí me lembrei
tanto de meu colega do teológico, como daquela irmã que trouxera a mim a
questão do racismo nos escritos inspirados e vi que, durante muitos
anos, eu havia consciente e inconscientemente me recusado a ‘arrazoar’ e
‘questionar’ estes temas sensíveis.
Abalo sísmico
Percebi com muita
clareza que várias doutrinas e subdoutrinas adventistas não estavam
fundamentadas na Bíblia, mas sim nos escritos de Ellen White, como o
decreto dominical, o juízo investigativo, a perfeição dos santos sem um
mediador, o selo de Deus, o dízimo e ainda várias questões relativas a
1844 e ao santuário.
Descobri que temos
um ‘Talmude’ Sabático Adventista, com centenas de advertências,
indicações, regras e orientações que se deve do que não se deve fazer no
sábado, e o quanto isso foge do simples ensinamento bíblico do sábado
passado por Jesus Cristo. Vi que do púlpito, em variadas ocasiões
criticamos os judeus por seu legalismo e regras absurdas sobre o sábado,
mas com tristeza, percebi que criamos as nossas próprias regras
legalistas.
Claro que o sábado é
sagrado e deve ser observado. Mas Ellen White, à semelhança dos judeus,
tornou a observância desse dia um fardo. Eu não pensava assim, mas isso
é porque eu não havia lido e nem tentado seguir todas as recomendações
que ela faz.
Descobri que os
pioneiros adventistas não entrariam na Igreja Adventista de hoje e isso
me chocou. Como é possível que Tiago White, José Bates, John Andrews e
John Loughbourough não aceitariam ser adventistas? Mas isso está
revelado na própria literatura da Igreja, em função da mudança de várias
doutrinas.
Ellen White e a Verdade
Atônito com tantas
revelações e descobertas, decidi analisar a fundo todas as informações
divulgadas pelo Centro de Pesquisas Ellen G. White. O incrível é que no
site oficial está tudo, tudo mesmo (www.whitestate.org).
Há demasiadas
evidências que mostram que ela não era de fato uma profetisa. Suas
visões não seguem o padrão bíblico como alguns historiadores adventistas
querem fazer parecer e ela não passa nem mesmo no teste estabelecido
pela própria igreja para um profeta verdadeiro.
Quando comparada
com os profetas bíblicos, Ellen White teve visões em excesso (mais de
duas mil) e numa infeliz coincidência, em quase todas as vezes, ela só
tinha a visão depois de ter tido contato com pessoas ou assuntos que
foram o tema da visão. Em outras palavras, suas visões não eram uma
antecipação como os historiadores e teólogos tentam fazer-nos acreditar,
mas simples ‘confirmações’ de assuntos em pauta.
E se nos basearmos
na narrativa oficial, ela teve até quarenta vezes mais visões do que
todos os profetas bíblicos juntos e isso não faz o menor sentido. (EGW -
2000 visões. Profetas e Apóstolos - 50 visões).
Ellen White relata
mais de cem encontros com "anjos" ao passo que, somados todos os
encontros ou visões de todos os personagens bíblicos que envolviam
anjos, teremos apenas quarenta e dois encontros (em toda a Bíblia).
Ao contrário do que
diz o livro “Nisto Cremos”, Ellen White teve visões que resultaram em
várias afirmações e doze profecias que não se cumpriram, além de se
contradizer diversas vezes e fazer afirmações contrárias às encontradas
nas Escrituras.
Ellen White
afirmava estar sendo 'inspirada' pelo Espirito Santo e dizia que recebia
muitas vezes 'as palavras diretamente do anjo' ao mesmo tempo em que
copiava de outros autores sem dar-lhes o devido crédito. E ela negou
esse fato explicita ou implicitamente diversas vezes numa atitude que
pode ser facilmente classificada como hipocrisia ou falsidade. Ou seja,
ela "copiava" trechos das obras de outros autores e depois afirmava
tranquilamente que isso veio do "Senhor".
Ellen White
apoderou-se de escritos e pensamentos alheios para montar seus livros e
exigiu para si direitos autorais que depois foram repassados aos seus
filhos, netos e bisnetos. Será que há dúvidas de que ela 'comercializou'
o dom profético ao deixar um ‘testamento’ dos direitos autorais?
Sob 'inspiração
divina' Ellen White afirmou verdadeiras barbaridades científicas sobre a
amalgamação entre homens e animais, masturbação, perucas, cosméticos,
planetas, estrelas, vulcões, etc. Também falou coisas das quais a
maioria dos adventistas se envergonharia em questões ligadas ao racismo e
a educação de crianças.
Se os fiéis de
qualquer congregação se escandalizam com os pastores que pregam o que
não vivem, imagine o que pensariam da "mensageira do Senhor" que falava
contra a carne e continuava fazendo uso dela? Isto sem contar as ostras,
o camarão, a manteiga, o queijo, os ovos, etc., tudo depois da visão da
reforma da saúde e no mesmo momento que os seus escritos recomendavam o
contrário. Em se tratando desse assunto, por mais de quarenta anos,
Ellen White pregou, condenou pastores, criticou membros, mas não viveu a
mensagem de saúde.
Fiquei pasmo ao
saber que ela fez uso de informações passadas por terceiros para
escrever cartas de admoestação a outras pessoas e tratava essas
informações como vindas de Deus. E como explicar seu sonho no qual Tiago
White, já falecido, lhe dá conselhos como numa visão espírita, e ela
atribui isso a Deus?
Ela disse que
recebeu em visão as orientações divinas sobre a doutrina da porta
fechada (doutrina que limitava a salvação ao grupo envolvido no episódio
de 1844) e durante muitos anos pregou sobre isso. Mas depois ela mesma
negou a validade dessa doutrina.
Para mim foram
muitas coisas, muitas descobertas, muita frustração, muito sofrimento
para quem aprendeu a amar Ellen White como uma profetisa de Deus para a
Igreja remanescente. Como fruto de minhas pesquisas surgiu um documento
de mais de 100 páginas com todos os assuntos, comentários e itens de
pesquisa e suas respectivas fontes (1).
Esclarecimento e Enfermidade
Diante de tudo
isso, fui forçado, não porque eu queria, mas pelo peso das evidências, a
concluir que Ellen G. White não era uma profetiza inspirada por Deus.
Isso não foi fácil, mas acreditar de forma diferente à luz de todas
essas revelações a partir das fontes oficiais seria uma insanidade.
Fiquei depressivo,
doente e emagreci como resultado de minhas pesquisas. A Igreja e a
profetiza que eu tanto amava tinham me decepcionado em alto grau. A
única força que eu possuía, felizmente, estava na Bíblia e foi ela que
me deu forças para atravessar esse período difícil de descobertas.
Muitos anos
Numa retrospectiva,
percebi que durante várias décadas, eu havia sido um fiel e dedicado
membro da igreja, tendo levado muitas pessoas a aceitarem a fé
adventista. Eu dedicara toda a minha vida a essa Igreja.
Aflito, resolvi me
abrir com o pastor local, que parecia uma pessoa muito confiável e falei
com ele das minhas inquietações. Comecei apenas com um assunto.
Falei-lhe sobre a falta de lógica do juízo investigativo e da falta de
embasamento bíblico para essa doutrina. Para minha surpresa, ele disse
que não acreditava no juízo investigativo e jamais pregava sobre esse
tema. Ufa, pensei, que bom, então podemos prosseguir.
Então conversamos
sobre Ellen White durante várias horas, onde eu apresentava
progressivamente minhas dúvidas, tanto com relação ao seu dom, como aos
seus escritos, sempre a partir das informações do site da Igreja. Ele me
ouviu atentamente e disse que iria checar no site para ver se as coisas
eram como eu estava falando.
Dias depois
encontrei-me com ele, ansioso para saber a que ponto a ‘pesquisa’ o
havia levado. Atentamente ouvi ele me dizer que acreditava que todas
aquelas informações faziam parte de uma grande conspiração e complô para
desmerecer o Espírito de Profecia. Calado e incrivelmente surpreso,
mudei de assunto e vi que a tarefa de esclarecer outros era bem mais
difícil do que eu poderia imaginar.
Procurando Outros
Tentei, com muito
critério, partilhar um pouco com outros irmãos que eu julgava
esclarecidos, mas eles me olharam como um louco. O que estava
acontecendo? Por que meus irmãos de fé não me davam ouvidos? Porque,
mesmo tendo as informações disponíveis, vindas de fontes confiáveis,
eles não buscavam saber a verdade?
Percebi que a
questão é intrigante e grave, e que o maior problema não era o acesso
deles a essas informações embaraçosas. A questão era outra.
Percebi que a
mentalidade deles estava aprisionada no modelo de vida adventista: no
sistema de valores, na visão estratificada, estagnada e acima de tudo
aprisionada nos lemas e slogans adventistas (“Nos temos a verdade";
"Somos o Israel moderno"; "Somos o povo da profecia"; "Temos uma luz
maior"; "Somos a Igreja de Laodiceia") e isso praticamente os impedia de
pensar. Isso mesmo: o adventista simplesmente aceita todo aquele
conjunto de crenças sem pensar, sem analisar a fundo. A Igreja traz
conforto, limites e segurança e isso é suficiente para praticamente
todos. Para eles, a verdade de fato, ou, sendo redundante, a verdadeira
verdade é apenas um detalhe.
Movimentos Paralelos
Sem dúvida, em
minha pesquisa, acabei me deparando com movimentos independentes que se
afastaram da Igreja por questionar alguns dos pontos que mencionei. A
princípio pensei que, se a Igreja não tinha razão, então eles deveriam
ter. Mas, ‘gato escaldado’, pus-me a analisar estes grupos e seus
ensinamentos antes de me envolver com eles. Descobri que quase todos são
ferrenhos na defesa dos escritos do Espírito de Profecia. Isso para
mim, por si só, já invalidava os esforços deles, depois de tudo o que
descobri de Ellen White.
O que fazer?
Ir a Igreja
tornou-se um dilema, pois em cada sermão, lá vinha a mesma expressão de
dependência e apoio nos escritos de Ellen White (“... de acordo com o
Espírito de profecia..., a irmã White disse...”). E, com menos
frequência, ouvia algumas pregações de doutrinas sem embasamento
bíblico.
O que fazer?
Tentar esclarecer
os outros irmãos tornou-se uma tarefa ingrata: em sua maioria, as
pessoas não estão de fato interessadas na verdade, apenas em conforto e
acolhimento.
Ficar ou não ficar na Igreja?
Em minhas pesquisas, algo me intrigava.
Por que pessoas
capazes e questionadoras como W.W. Prescott, Desmond Ford, Sammuelle
Bachiochi e Raymond Cottrell apontaram ou apontam falhas em nossas
doutrinas e interpretações proféticas e permaneceram ainda assim na
Igreja Adventista?
Porque Fletcher e Conradi continuaram a crer na integridade básica da mensagem adventista mesmo após serem desligados?
Porque Walter Rea
acreditava até o momento em que foi tirada a sua credencial de pastor,
que poderia permanecer como obreiro na Igreja Adventista ao tentar
‘destruir’ o mito Ellen G. White?
Por que Dirk
Anderson, um dos maiores críticos de Ellen G. White na atualidade, em
seu depoimento pessoal não aconselha as pessoas a saírem da Igreja
Adventista (pelo menos não diretamente)?
Por quê?
Mas está certo
permanecer numa igreja que negou suas raízes, modificou suas doutrinas,
apoia (com conhecimento) as inúmeras irregularidades nas questões que
envolvem Ellen White?
Está certo
permanecer na Igreja depois de se conscientizar que ela se tornou mais
legalista com relação a diversos critérios (sábado, exclusão por crenças
individuais diferentes [trindade]) e moralmente duvidosa em outros
(apoio do aborto em hospitais adventistas americanos, mal uso de
recursos ‘sagrados’, acobertamento de erros e trapaças dos líderes)?
Existe uma Religião Verdadeira?
Existe uma Religião
cujas doutrinas, interpretação profética e linha de ação possam ser
analisadas ponto a ponto diante da palavra de Deus e sair completamente
aprovada?
Na verdade, quando
se lê o Novo Testamento só se consegue ter certeza da existência de um
povo espalhado pelo mundo, que constitui a “igreja de Deus e de Cristo”.
Três textos são suficientes:
“Mestre, vimos um homem que em Teu Nome expulsava demônios, e nós lho proibimos, porque não nos seguia. Jesus, porém, respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em Meu Nome e possa logo depois falar mal de Mim; pois quem não é contra nós, é por nós. Portanto, qualquer que vos der a beber um copo de água em Meu Nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa.” Marcos 9: 38-40
O segundo texto é Atos 10:35: “Em cada nação Deus tem aqueles que o adoram, praticam boas obras e são aceitáveis a Ele.”
E o último e mais
incisivo: “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é
esta; Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se
incontaminado do mundo”. Tiago 1:26-27.
Assim, concluí que
existe um povo remanescente espalhado pela face da Terra, que vive a
virtude, crê em Deus e naquele dia maravilhoso, será levado para o céu.
Finalizando
Comecei essa
narrativa de minha experiência com a pergunta "Como alguém pode deixar a
Igreja Adventista do Sétimo Dia, a não ser por estar fraco na fé?"
Eu sei a resposta. Pessoas fortes na fé também saem da Igreja Adventista.
Buscando a verdade
de coração e com fé, uma pessoa sincera e de mente aberta, ao encontrar
as respostas, certamente deixará a Igreja Adventista, por não aceitar
conviver com todas essas irregularidades e erros. Mas pode ser que
alguém ainda queira permanecer para ajudar os que estão lá.
Minha Decisão: seguir a Cristo
Depois de muita
reflexão, oração e conversas com minha família, decidi sair da Igreja,
pois não encontrei um caminho melhor para seguir a Cristo. Hoje sou um
cristão que vive plenamente a mensagem de Apocalipse 14:12 (um
remanescente que guarda os mandamentos de Deus e mantem a fé em Jesus).
Não quero em mim
nenhum rótulo de Igreja e Instituições. Estou muito feliz e seguro na
mensagem bíblica. Ainda tenho muito carinho pelos adventistas, mas não
sou mais um deles. Sou apenas e tão somente um cristão, com muita fé em
Deus, amor a sua palavra e satisfação de seguir a Cristo.
Abraços
Phillipe Hotman
Fonte: http://adventismoexposto.blogspot.com.br/2012/04/depoimento-de-phillipe-hotman.html